IMUNO-ONCOLOGIA

Vamos falar um pouco sobre um novo e promissor campo de pesquisa no combate ao câncer, a imunoterapia. A imunoterapia em oncologia tem como objetivo estimular e amplificar a resposta imune, utilizando nosso próprio sistema imunológico para reconhecer e combater as células malignas, ao mesmo tempo freiando a evolução do câncer.

Junto com a cirurgia, quimioterapia/terapia-alvo e radioterapia, a imunoterapia consolida-se como um quarto e extremamente promissor pilar no tratamento do câncer, capaz de proporcionar resultados mais duradouros e com menos efeitos colaterais. Tanto é que foi considerada pela revista Science “o maior avanço da ciência” no ano de 2013, e em 2016 “o avanço do ano” pela ASCO (Sociedade Americana de Oncologia Clínica).

A imunoterapia usa anticorpos mononoclonais, que são anticorpos desenvolvidos em laboratório e projetados para intervir em um determinado “alvo celular” (proteínas chamadas antígenos). Na oncologia, o principal “alvo celular” são os chamados inibidores de ponto de verificação imunológicos. Estes agem como “freios” no sistema imune, assegurando que as células de proteção sejam utilizadas somente quando necessário. Porém células cancerosas conseguem burlar este sistema, fazendo que nosso organismo não identifique o câncer como uma ameaça, e não ativando o sistema imune. Assim, ao usarmos os anticorpos voltados a este “alvo celular”, bloqueando o “freio” de nosso sistema imune, estaremos estimulando nossas células de defesa para que identifiquem e combatam as células cancerosas. Ou seja, o medicamento não é focado na doença em si, e sim nas nossas células de defesa, e comparando com a quimioterapia, com riscos e efeitos colaterais menores.

Já existem tratamentos imunoterápicos voltados para casos de câncer de cabeça e pescoço, bexiga, pulmão, linfomas e, mais recentemente, mama.

Especificamente quanto ao câncer de mama, o uso de um anticorpo monoclonal chamado atezolizumabe (cujo “alvo” é uma proteína chamada PDL-1) associado a quimioterapia, mostrou-se bastante eficaz no tratamento de pacientes com um subtipo de câncer de mama muito agressivo chamado de triplo negativo, com doença metastática. Este tratamento associando imunoterapia à quimioterapia em pacientes triplo negativas foi descrito em um estudo chamado IMpassion 130, divulgado em outubro de 2018, e rapidamente aprovado para uso na prática clínica tão bons foram os resultados.

A própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reconheceu o benefício, aprovando em 13 de maio último o atezolizumabe como primeiro tratamento de imunoterapia para câncer de mama no Brasil, dentro dos critérios do estudo IMpassion 130.

Certamente o futuro trará várias novidades na imuno-oncologia, nos mais variados tipos de câncer, e realmente consolidando-a como o quarto pilar do tratamento do câncer.

 

Dr. Murilo do Valle Saboia (Cirurgia Oncológica – Mastologia)