Durante anos especulou-se a respeito do aumento da incidência de câncer de mama correlacionado ao uso de próteses mamárias de silicone. Vários estudos foram realizados no passado e nenhum mostrou uma correlação entre o câncer de mama e próteses de silicone.
Porém, recentemente, um tipo raro de linfoma mostrou ter um aumento de incidência nas mamas de mulheres portadoras de próteses mamárias texturizadas, entidade descrita como linfoma anaplásico de grandes células associado a implante mamário (BIA-ALCL). Mulheres com próteses mamárias tem, em comparação com mulheres sem próteses, um grande aumento da incidência deste tipo de linfoma (até 18 vezes mais). Mesmo assim, a prevalência do BIA-ALCL é baixa (estudos mostram riscos que vão de 1 caso para cada 1.000 pacientes, até 1 caso para cada 30.000 pacientes). Para se ter idéia estima-se relatos de 464 no mundo todo, para um total de cerca de 20 a 30 milhões de mulheres com implantes mamários.
Acredita-se que a causa deste tumor seja um estímulo imunológico persistente pela presença de um processo inflamatório crônico induzido pelo implante mamário, provavelmente relacionado à superfície mais rugosa do implante (como nas próteses texturizadas). Esta situação numa paciente geneticamente já susceptível à doença, seria o fator que induziria ao linfoma.
A maior parte dos casos de BIA-ALCL aparecem aproximadamente 10 anos após a colocação da prótese, manifestando-se com a presença de líquido ao redor da prótese (seroma) ou nódulo adjacente à sua cápsula, sendo geralmente unilateral. O tumor inicialmente acomete a cápsula fibrosa que envolve o implante, podendo na evolução extender-se além da cápsula infiltrando tecido mamário ao redor e, mais raramente, disseminar-se para outros locais do corpo. O diagnóstico é feito através de exame de ecografia mamária, com punção e aspiração do seroma e biópsia da cápsula.
O BIA-ALCL, apesar de ser um tumor maligno, na maior parte das vezes comporta-se de uma maneira indolente, sendo que a remoção cirúrgica completa do implante e sua cápsula e eventual massa adjacente é tratamento suficiente, com um ótimo prognóstico. Para pacientes com doença disseminada indica-se a quimioterapia.
Tendo em vista o baixo risco de desenvolvimento de BIA-ALCL nas pacientes portadoras de implantes mamários texturizados e o comportamento indolente da doença, com prognóstico favorável após a simples remoção cirúrgica do tumor na maioria dos casos, é consenso que não existe a necessidade de remoção preventiva dos implantes nem exame de rastreamento além do controle clínico e radiológico anual.
Dr. Murilo do Valle Saboia – Mastologia/Cirurgia Oncológica